Fazer parte do time de Integridade Transacional no PicPay é quase como um privilégio; é uma experiência que redefiniu a maneira como encaro trabalho em equipe. Costumo dizer que tive sorte em trabalhar com pessoas incríveis, mas a verdade é que o diferencial aqui vai muito além disso: trata-se de uma cultura de melhoria contínua. Sim, a mesma filosofia aplicada ao desenvolvimento de software, mas estendida ao nosso dia a dia, aos processos e à maneira como trabalhamos juntos.
Pense bem: quantas vezes você e seu time pararam para revisar seus próprios processos? Mas revisar de verdade — identificar pontos de melhoria, criar planos de ação, executá-los e, semanas depois, voltar para reavaliar? Hoje, vejo isso como essencial, quase intuitivo, mas nem sempre foi assim. Em outras equipes por onde passei, essa reflexão era, no máximo, uma ideia vaga, algo sempre adiado em prol da “próxima entrega”.
Durante minha jornada no desenvolvimento de software, atuei em equipes diversas, desde pequenos projetos que atendiam algumas dezenas de usuários até plataformas que impactam milhões de pessoas. Em cada experiência, me deparei com metodologias ditas “ágeis”, geralmente promovidas por um coach com buzzwords afiadas. O problema? Na maioria dos casos, essas práticas eram impostas de cima para baixo, desconectadas da realidade da equipe e sem qualquer senso de pertencimento por parte dos desenvolvedores.
O Problema com Processos Impostos
Não me entenda mal: regras e processos são necessários. Mas quando eles são definidos sem a participação ativa dos times, a adesão e o comprometimento se tornam superficiais. Nesses casos, as cerimônias ágeis acabam se tornando rituais vazios, cumpridos mecanicamente, sem que se compreenda seu verdadeiro propósito.
Acredito que essa desconexão é um dos principais fatores que minam a motivação das equipes. Por isso, fomentar um ambiente onde as pessoas tenham liberdade para revisar processos, expor dificuldades e sugerir melhorias pode ser a chave para um desempenho sustentável. Um time de alta performance não é aquele que simplesmente entrega mais, mas aquele que entrega melhor — com menos retrabalho, mais qualidade e uma estrutura que promove a evolução contínua.
O Que Define um Time de Alta Performance
Para mim, um time de alta performance é aquele que não se contenta em seguir processos, mas busca aprimorá-los constantemente. E isso vai muito além de produtividade medida em tarefas entregues; envolve a qualidade do código, a documentação, a comunicação clara e a redução do retrabalho.
Essa cultura exige maturidade. Significa abrir mão do orgulho, aceitar feedbacks e discutir problemas de forma construtiva. Retrospectivas, por exemplo, devem ser mais do que uma lista de acertos e erros. Elas precisam se aprofundar nas causas reais dos problemas, explorar padrões recorrentes e estimular debates produtivos sobre soluções eficazes.
Além disso, um time de alta performance valoriza o aprendizado contínuo. A troca de conhecimento entre os membros, seja por meio de pair programming, code reviews ou discussões técnicas, fortalece a equipe e cria um ambiente de crescimento mútuo. Quando todos compartilham suas experiências e aprendem com os erros e acertos uns dos outros, o time se torna mais coeso e resiliente.
Outro aspecto crucial é o alinhamento entre os objetivos do time e os valores individuais de seus integrantes. Quando as pessoas enxergam propósito no que fazem e compreendem o impacto do seu trabalho, a motivação e o engajamento aumentam. Isso evita que o dia a dia se torne um ciclo mecânico de tarefas e reforça a sensação de pertencimento e contribuição real para um objetivo maior.
Para que isso aconteça de forma consistente, a empresa também precisa ser receptiva a feedbacks e estimular esse senso de pertencimento e proatividade. Criar um ambiente onde cada membro do time se sente ouvido e valorizado fortalece a cultura organizacional e impulsiona o crescimento coletivo. Essa cultura não se constrói da noite para o dia, mas sim com ações diárias, incentivando trocas sinceras, abrindo espaço para melhorias sugeridas por qualquer nível da equipe e promovendo autonomia na tomada de decisões. Dessa forma, o trabalho se torna mais colaborativo, inovador e menos mecânico, criando times que prosperam juntos.
A Importância da Melhoria Contínua
A melhoria contínua é frequentemente associada à otimização de software, mas seu impacto é ainda maior quando aplicada ao funcionamento de uma equipe. Aqui no time, isso significa que todos são responsáveis por identificar problemas e sugerir soluções.
Por exemplo, se uma entrega atrasa, não apenas registramos o atraso. Investigamos a raiz do problema: falha no planejamento? Ruído na comunicação? Falta de alinhamento com um time externo? Com base nessas reflexões, implementamos soluções concretas: desde checklists e melhorias na documentação até ajustes nos processos de planejamento.
Além disso, adotamos práticas como “post-mortems”, onde analisamos falhas sem buscar culpados, mas sim aprendizados. Realizamos dinâmicas de brainstorming para fomentar ideias de otimização e incentivamos a rotação de funções dentro do time para que cada membro tenha uma visão mais ampla do processo. Pequenos rituais, como reuniões curtas de alinhamento e revisões periódicas de documentação, também garantem que a melhoria contínua não fique apenas na teoria, mas seja parte do dia a dia da equipe.
Mais do que isso, esse processo não se restringe apenas ao desenvolvimento de software. Times de todas as áreas podem se beneficiar de revisões periódicas sobre seus desafios e práticas. Reuniões entre equipes, por exemplo, permitem que problemas sejam discutidos de forma aberta e colaborativa, fomentando pequenas melhorias constantes que, ao longo do tempo, geram um impacto significativo. Sócios ou líderes também podem estabelecer checkpoints regulares para refletir sobre a evolução da empresa, identificando oportunidades de melhoria e garantindo que as decisões estratégicas sejam tomadas com base em aprendizados reais e contínuos.
Uma boa analogia para isso é a rotina de atletas de alta performance. Quem busca ganhar músculo, por exemplo, está sempre ajustando seus treinos, aumentando a carga, revisando a dieta e experimentando novas estratégias para otimizar os resultados. Da mesma forma, um time ou uma empresa que deseja evoluir precisa revisar constantemente seus processos, adaptar estratégias e buscar formas mais eficientes de atingir seus objetivos.
O Pulo do Gato
O verdadeiro diferencial acontece quando a melhoria contínua deixa de ser uma prática isolada e se torna parte da identidade do time. Quando um grupo de pessoas se compromete não apenas com as entregas, mas com a forma como trabalha, ele cria um ciclo virtuoso onde cada interação torna o time mais eficiente e resiliente.
No fim das contas, tudo se resume a senso de pertencimento e responsabilidade. Quando os próprios membros do time participam ativamente da criação e revisão dos processos, sentem-se donos do caminho que trilham. Isso transforma completamente a experiência do desenvolvedor: o trabalho deixa de ser apenas um conjunto de tarefas mecânicas e passa a ter um propósito mais profundo. Em vez de apenas seguir instruções, cada pessoa no time se vê como parte fundamental do todo, contribuindo para a evolução dos processos e impactando diretamente o resultado. Esse envolvimento genuíno gera mais motivação, criatividade e engajamento, afastando a sensação de que o trabalho é algo robotizado e repetitivo.
E você? O que tem feito para transformar seu time em um de alta performance?